“A Política de Moradia é Basicamente de Favorecer o Mercado Privado”: Entrevista com Lorena Zárate, da HIC
Brasil, Noviembre 2014
Habitat International Coalition (HIC, ou Coalizão Internacional Habitat), é uma aliança independente, com centenas de organizações a integrando. Ela vem trabalhando com direito a moradia e assentamentos humanos ha 30 anos. A coalizão compreende movimentos sociais, organizações comunitárias, grupos de apoio técnico e acadêmicos. Durante o Encontro Internacional Direito à Cidade em São Paulo, a presidenta da HIC, Lorena Zárate, concedeu este entrevista.
Você pode explicar um pouco sobre o que você faz?
Faço parte de Coalizão Internacional Habitat, do México. O trabalho que nós fazemos é de fortalecer os processos de articulação e a luta nas comunidades, as cidades e os países para avançar o direito à moradia e o direito à cidade.
Quais são os maiores desafios para o movimento de moradia no México?
No México, como outros lugares no Sul e na America Latina tem desafios em distintos níveis. Há níveis das políticas que estão sendo implementadas pelos governos. Primeiro, há uma visão muito setorial: tem a política de moradia por um lado, as políticas sociais por outro, a política econômica por outro lado, e estas políticas são contraditórias. Estas contradições têm conseqüências muito difíceis para a vida da gente. Estes políticas não são coordenadas. A política de moradia é basicamente de favorecer o mercado privado e assim se constroem muitas casas de qualidade ruim, longe dos centros das cidades e oferecendo empregos e serviços com pouca infra-estrutura, como escolas e hospitais, com pouco ou nada de serviço de transporte publico, problemas de água, problemas de resíduos sólidos. Então, é uma política que esta gerando mais problemas que soluções. Do outro lado, ela não apóia a produção social de moradia- a cidade que a gente quer e que a gente vem construindo nos bairros populares, e o estado é obstrucionista e muitas vezes criminalizador em face destes processos.
Como é o contexto atual no México em relação à criminalização dos movimentos socais, como no caso dos 46 ativistas estudantis que foram assassinados recentemente?
Tem uma criminalização generalizada dos movimentos acontecendo em todo o mundo, em termos gerais, com políticas de austeridade depois da crise financeira mundial de 2008, que geraram um enorme lucro para alguns setores, e uma crise para a grande maioria. A crise foi usada como uma desculpa para aumentar a militarização ou re-militarização de muitas cidades, acelerando um processo que começou depois dos atentados contra as torres gêmeas em 2001. Isso criou um obstáculo muito grande, e mecanismos de persecução de diferentes movimentos que luta pelos direitos ambientais, dos camponeses, indígenas, ou dos habitantes urbanos. Então, eu digo que a situação está horrível no México. Nestas últimas semanas ele tem aparecido mais na mídia, mas, na realidade, é só a ponta iceberg- uma amostra de algo que está muito mais profundo. É uma situação muito terrível, que gerou ações de solidariedade em todo o mundo, não só para aumentar a consciência para mudar as coisas no México, mas para causar mudanças também em outros lugares, e mudar esta agenda terrível que esta sendo imposta ao povo.
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